terça-feira, 28 de abril de 2020

À CAÇA DE RESPONSÁVEIS PARA ENCOBRIR INTERESSES ESCUSOS


Syro Cabral de Oliveira

A nossa intenção, a princípio, foi em dar uma nota de rodapé acerca do termo discurso original, que frequentemente mencionamos em nossos textos, mas logo em seguida mudamos de ideia e preferimos escrever um texto em vez de continuarmos com a primeira decisão.

Quando falamos de discurso primário ou original queremos, com efeito, nos referir acerca das ondas de discursos que partem de uma fonte única e inteiramente desconhecida, que tomam conta do espaço, no noticiário, dos veículos de comunicação de massa, por um bom período de tempo.

No momento vigente, estamos presenciando um discurso cujo fundo é o tema saúde. Na sua vanguarda, aparecem personagens que têm por objetivo exclusivo de proliferá-lo e disseminá-lo a exaustão. Alguns desses personagens não são tão abrangentes, universais, tal como o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde – OMS –, Tedros Adhanom Ghebreyesus. Há outros ainda que são estritamente de caráter local, como figuras do tipo do ex-ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta, que se comunica diretamente com as massas de sua própria língua.

Essas ondas de discursos são temporárias e sazonais e nem poderiam ter duração muito longa, porque se desgastariam e logo perderiam sua credibilidade. Seu objetivo é causar impacto, muito barulho e confundir a opinião das pessoas de um modo geral e desviar sua atenção dos problemas maiores. Têm que ser rápido, pois, do contrário, as pessoas perceberiam seus truques e suas verdadeiras intenções.

Não vai tardar muito, ao aproximar-se o período da estiagem e, em seguida, o das queimadas – incêndios florestais –, os referidos veículos de comunicação retomarão o discurso paranoico dos ecologistas de plantão. Assim, essas ondas de discursos vão se revezando, sem que as pessoas sequer percebam que há grandes interesses bem determinados por trás das fontes poderosas do capital internacional, que financiam e contornam o modo de pensar das pessoas.
Secas, tsunamis, chuvas torrenciais, furacões, vulcões são fenômenos da natureza, que ocorrem periodicamente e que, no passado, eram considerados divindades, devido a sua força incontrolável pelo homem. Entretanto, não há nenhum esforço, por parte dos governantes, que objetive esclarecer e conscientizar as pessoas, através de uma boa educação, acerca da natureza desses fenômenos e também das suas periodicidades. O que se objetiva mesmo é eleger responsáveis pelos danos causados por tais fenômenos, como se a causa das secas, por exemplo, fosse, de fato, o desmatamento.

Na Idade Moderna, com o avanço das ciências, o homem passou a pensar que o objetivo da Ciência era o de dominar a natureza. No entanto, mesmo diante do grande poder científico e financeiro dos Estados Unidos da América do Norte e do Japão, estes países não conseguem dominar os furacões e tsunamis, respectivamente.

Ocultamente, os representantes do grande capital financeiro internacional, nos bastidores, se articulam e financiam propagadores dos acontecimentos naturais e não naturais que ocorrem periodicamente – tais como pandemias, secas, furacões, ameaças de guerras etc. – e incitam-nos a dar-lhes uma dimensão descomunal, causando apreensão, insegurança, temor, angústia nas pessoas, com o único intuito de desviar a atenção dos telespectadores e, silenciosamente, realizarem seus mirabolantes projetos, sem que as populações mundiais deem conta das suas verdadeiras intenções. Assim sendo, eles vão se firmando e fortalecendo sua hegemonia no âmbito mundial, tal como a da China da atualidade e a de todos os gigantes da informática e dos fabricantes de equipamentos eletrônicos. Nesse sentido, recrutam pessoas certas para os lugares certos, sempre usando de dissimulação para dar um ar de que tudo ocorreu naturalmente. O atual diretor-geral da OMS se apresenta como uma figura central e possuidora de grande autoridade a respeito dos assuntos relacionados à saúde. Para tanto, ele se apoia no discurso científico. Discurso este que se tornou inquestionável, pois as ciências são a autoridade máxima, a deusa e, obviamente, o que uma deusa dita, não se pode questionar, como já fizemos referência em nosso texto Pseudo princípio de autoridade e complexo de rotulação.

A partir do discurso do Ghebreyesus, vários outros discursos são disseminados e propagados em alta velocidade. Entretanto, essas pessoas, que são escolhidas para fazer parte dessa cadeia de discursos, não estão ali por acaso. Elas se encontram ali, porque, de certo modo, possuem um talento especial para tal. Mesmo falando em inglês e poucas pessoas entendendo a fala do diretor-geral da OMS, a maioria das pessoas sente prazer em ouvi-lo, simplesmente, porque seu discurso é musical e causa prazer aos ouvidos e apazígua a alma. Dessa forma, também, é o que passa com o senhor Mandetta. Seu objetivo maior, fica claro pelo seu tom de voz, é mesmo surfar na crista das ondas dos discursos. Assim sendo, seu discurso é vazio de conteúdo, mas é inteiramente estribado na retórica e, além disso, é inebriante, altamente musical e aveludado, sem nenhum objetivo definido.

O discurso retórico, em si, não precisa ter conteúdo, basta ser agradável. É como uma letra de uma determinada música, que consiste apenas em uma única frase, mas, mesmo assim, quando cantada, seduz inteiramente seus ouvintes.

Existe para cada pessoa um dom especial. Não adianta tentar-se ser cantor sem que existam, de antemão, qualidades que proporcionem a realização de tal tentativa. Na fábula A lamentação do pavão, um pavão lamentou-se a deusa Hera por não possuir uma voz tão suave como a do rouxinol, dizendo que “seus gritos causam horror a toda gente”. Hera disse que o rouxinol tem sua bela voz, mas que o pavão possui beleza e majestade. Entretanto, o pavão replicou, dizendo “de que serve a minha beleza, se outro pássaro tem uma voz mais bela?” Hera “mandou o pavão embora, dizendo-lhe que cada criatura recebeu um talento especial. Tu recebeste a beleza, a águia tem força, o rouxinol tem uma voz melodiosa, o papagaio fala e a pomba tem sua inocência. Cada um tem de contentar-se com as suas qualidades e, se não queres continuar a sentir-te infeliz, é o que tens de fazer.”

É preciso que as pessoas aprendam a valorizar-se a si mesmas, pois, do contrário, levarão uma vida sem sentido, sem perspectiva e inteiramente melancólica, vagando, por esse mundo afora, sem rumo. Desde cedo, devemos procurar nos conhecer e nos vermos, através de uma espécie de espelho, quem somos e procurarmos descobrir quais são os nossos verdadeiros talentos. Esses homens, que falam com desenvoltura e arrebanham grandes multidões, não têm em vista, normalmente, o bem alheio, mas, quase sempre, eles procuram preencher o vazio do seu ego. Eles investem, desde uma tenra idade, nas tendências que se afloram em seu agir quotidiano. A frase socrática “Conhece-te a ti mesmo”, parece-nos muito pertinente em relação a esse contexto. Assim, para que se represente um papel de um ato de loucura, com o máximo de realismo, no teatro, não há nada mais acertado do que contratar um ator que se manifeste tendências à loucura. Não devemos jamais ser fingidos, mas sempre devemos ser realmente o que somos. A nossa espontaneidade é, certamente, uma virtude.

É preciso que não percamos tempo com coisas fúteis e alheias a nós. Há pessoas que perdem mais tempo, em toda sua vida, em preocupar-se com a vida das outras pessoas do que se ocupar propriamente consigo mesmas. É como diz Cioran, em seu livrinho História e utopia, “Detestamos aqueles que 'escolheram' viver na mesma época que nós, que correm a nosso lado, que entravam nossos passos ou nos deixam para trás. Em termos mais claros: todo contemporâneo é odioso. Conformamo-nos com a superioridade de um morto, jamais com a de um vivo, cuja simples existência constitui para nós uma censura e uma acusação, um convite às vertigens da modéstia. Que tantos semelhantes nos ultrapassem é uma evidência intolerável que esquivamos nos arrogando, por uma astúcia instintiva ou desesperada, todos os talentos e atribuindo-nos a vantagem de ser únicos. Sufocamos perto de nossos êmulos ou nossos modelos: que alívio diante de suas tumbas! O próprio discípulo só respira e se emancipa com a morte do mestre. Todos nós, enquanto existimos, invocamos com nossos desejos a ruína daqueles que nos eclipsam com seus dons, com seus trabalhos ou com suas façanhas, e esperamos ansiosamente, com avidez, seus últimos momentos. Alguém se eleva, em nosso setor, acima de nós e é razão suficiente para que desejamos nos ver livres dele: como perdoar-lhe a admiração que nos inspira, o culto secreto e doloroso que lhe consagramos? Que desapareça, que se afaste, que morra enfim, para que possamos venerá-lo sem dilaceramento, sem amargor, para que cesse nosso martírio!”

Para cada pessoa, há um papel específico e bem definido. E é isso que os mandatários procuram ver em cada pessoa que vai ser designada para ocupar um determinado cargo. O diretor-geral da OMS não ocupa esse cargo por acaso. Ele apresenta, de antemão, as qualidades certas para ser o porta-voz de um discurso totalmente bem elaborado por um grupo, que poderíamos dizer assim que, ocultamente, governa o mundo. Os âncoras, jornalistas, repórteres etc. são seus porta-vozes. Ou seja, são os profissionais, cheios de vaidade, que inflam o peito – à semelhança das Musas, exortadas pelo grande Zeus, imbuído de poder e portador da égide, a exaltarem as glórias dos deuses –, proliferam e disseminam as ideias que interessam ao grupo do capital dominante. Platão, no Íon, 533d, apresenta também semelhante ideia, através da pedra magnética. Pedra esta que “não somente atrai os anéis de ferro, mas lhes comunica a virtude de produzir o mesmo efeito e atrair outros anéis, de sorte que se vê algumas vezes uma longa cadeia de pedaços de ferro e de anéis suspensos uns aos outros, que todos tomam emprestado sua virtude desta pedra. De igual modo, a Musa, por si mesma, inspira o poeta, este comunica aos outros a inspiração e se forma uma cadeia inspirada”, que segue a seguinte ordem: Musas inspiradoras inspiram o poeta, que inspira o ator, que inspira o espectador.

A vida é um verdadeiro teatro. Brasília, a Casa Branca, nos Estados Unidos da América do Norte, a Casa Rosada, na Argentina etc., por exemplo, são o palco. Os políticos, eleitos pelo povo, são os atores. O povo, em sua totalidade, é o espectador. Os deputados, os senadores, os ministros e os presidentes das Repúblicas se contracenam diariamente entre si. Muitas vezes, se fingem de opositores, mas nos bastidores estão todos unidos, entre afagos e gargalhadas, ao comentarem as suas façanhas ao longo de cada dia.

Muitas vezes, é no momento de um barulho intenso que o nosso sono, ironicamente, se torna pesado e letárgico. Porém, ao despertarmo-nos já é tarde demais, embora tivéssemos sido advertidos, por meio de alguns presságios, do perigo que estava a caminho.

É de ter-se em mente a ideia de que as coisas costumam ganhar proporção e contornos bem definidos rapidamente, de modo a não nos mais permitir que impeçamos a sua evolução. E é quase sempre assim mesmo: enquanto uma maioria dorme sossegada e profundamente, há uma minoria de pessoas trabalhando, sem cessar, silenciosamente. É nesse ínterim que somos engolidos pelas ondas gigantes, que tomam todo o espaço da praia, antes mesmo que pudéssemos delas nos proteger em tempo hábil.

Assim sendo, rogaríamos às pessoas a não perderem tempo em momento algum, sobretudo nesses momentos de crises cruciais, mas a trabalharem com muito afinco, desconfiando de quase tudo, e em especial, das cantilenas que nos chegam através de vozes suaves e muito agradáveis, pois, haveremos de convir que muitas Musas inspiradoras haverá ainda de vir.

6 comentários:

  1. Meu prezado amigo Syro Cabral, seu texto é ilustre como sempre,de grande sabedoria, mas na minha opinião não concordo com algumas coisas. Primeiro,se me permite,há várias partes para esta benéfica discussão, uma delas seria sobre este tema de um vírus que se tornou uma pandemia e isto é um fato, não podemos subestimar nem evitar preocupação...Seria alguma Lenda? Talvez "uma simples gripezinha", como proferiu Bolsonaro. Causa-me espanto, a despreocupação, já que fatos que estamos realmente presenciando com amigos, familiares e o povo em todos os continentes passando por isto. O homem com toda a Ciéncia, não pode vencer, só prevê um furacão,tsunamy,vulcões, enfim tragédias por um fenômeno físico, com exceção do Aquecimento global este sim, as causas são antrópicas, como o desmatamento ( e sim, tem consequências climáticas) Fatos isolados que com a conscientização resolverá, pelo menos com as ações mais ordenadas do homem. Porém, não se aproximam de uma Pandemia por contágio viral (até pelo ar).É sério! Cheiro de morte no ar planetário. Temos a Ciência pesquisando e esperançosa, a imprensa noticiando sim, as pessoas morrendo, os leitos e médicos faltando(somos um país emergente), temos a falta de tudo!Existem discursos, propagandas,muitos patrocinadores,superfaturamento de Empresas...Sim. Existe, mas quando neste país não houve. Não justifica, porém onde estaria uma "Teoria da Conspiração "? Neste país continente isto não muda nunca, somente pelos votos...Assim mesmo ainda é arriscado.
    Numa outra parte de seu texto, faltou um pouco de tolerância o que não condiz com você, pois estamos neste mundo, nos testando sempre para melhorar, mas sem pretenção de sermos os únicos, pois faltaria aí civilidade, humildade... Sem isso o caos impera. Obrigada. Um forte abraço caro amigo. Boa noite.

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    1. Muito lúcido e apropriado o seu comentário. Obrigado.

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    2. Olá, o texto comenta um momento de crise Pois bem, um aspecto que cabe ressaltar: o antropoceno não parece-me um inverdade, algumas ações humanas impactam em fenômenos que podem se tornar crises A Ciência tem papelpreventivo, ela ajuda a prevenir e diminuir impactos de um furacão e outros, Do mesmo modo, penso que COVID-19 pode ter impactos diminuídos com informação e conhecimento, a imprensa e a ciência na luta contra a crise sanitária global Bela passagem chamar governante de atores e o povo de plateia Não está de todo errado, mas, avalio que o povo entra em cena nas manifestações democráticas, concorda? Por isso, penso que o texto é bom para fazermos um debate sobre um momento crítico que exige de nós paciência e uma leitura qualificada para que durante os processos eleitorais, as pessoas elejam alguém pelos projetos e pela coerência em seus percursos políticos Penso que Ghebreyesus age de acordoe, Mandetta não é santo, ele é anti-SUS, ele entrou na política assim,, lobista de plano de saúde, mas, diante da pandemia, tomou ações corretas O grupo de Chicago Boys que Guedes faz parte canta no ouvido de Bolsonaro, "menos Estado" algo que agora não tem como dar certo Por isso, recomendo a leitura do texto para que esse debate seja feito O que pode a ciência? E qual o dever da política? Syro Cabral nos convida a fazer esse debate, acreditando no discernimento individual e defendendo o livre pensar

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  2. Obrigado pelo seu comentário.
    O que importa mesmo são as ideias, sobretudo, quando se expressa com convicção.

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    1. Obrigado, Renato, pelo seu comentário. Muito oportuno. E é justamente através do debate que há avanços no campo do conhecimento.

      Entre outras coisas que você pontua, tais como a questão da “informação e conhecimento”, quando se refere à COVID-19, parece-me que, neste caso específico, informação e conhecimento, sem sabedoria pouco acrescentam ou ajudam. Além disso, quando você afirma também “avalio que o povo entra em cena nas manifestações democráticas”, contestando a minha afirmação de que o povo tem um papel meramente de espectador no nosso cenário político, faz-me refletir e me colocar prontamente, pois, pode ser que você tenha toda razão, mas eu, particularmente, sou cético quanto às manifestações populares espontâneas. Penso, no entanto, que há sempre, por trás de tais manifestações, certas lideranças, impregnadas de determinados interesses, que as puxam. Recentemente, na Venezuela, uma líder de movimentos populares foi questionada acerca do esfriamento das manifestações populares. Ela disse que os líderes dos movimentos de rua se tornaram muito céticos quanto a mudanças no país e por isso desanimaram e consequentemente não puxaram mais nenhuma manifestação.

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  3. Oi Syro. Boa noite. Gostei bastante do seu texto. Que está muito bem escrito, por sinal! Algumas considerações suas estão me fazendo refletir um pouco. Realmente, com o triunfo da ciência moderna sobre outras formas de saberes e pensamentos, o homem comum, seja pobre ou rico, letrado ou sem educação, passa a ver a natureza, o mundo, como previsível e controlável pelo homem. E acontecimentos naturais comuns, como a peste, passam a ser vistos como passíveis de correção, controle humano. E a falha nesse controle normalmente se daria por agentes políticos ou econômicos que agiriam por interesses próprios. Agora, é interessante ver como esse discurso científico dito universal é instrumentalizado, por trás dos panos, por interesses políticos e econômicos diversos. O dito em nome da ciência ganha ares de verdade absoluta e discordar seria loucura. Isso é colocado diariamemte na televisão. Esses aspectos são muito claros na situação em que vivemos, concordo plenamente com você. Por mais que possa discordar a respeito dos limites e pretensões da ciência. É hora de estar atento e refletir sobre esse estranho e veloz mundo em que vivemos. De resto, bem interessante o blog, vou passar a acompanhar. Abraço!

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