terça-feira, 12 de maio de 2020

O CACHORRO CORRENDO EM CÍRCULO NA TENTATIVA DE PEGAR O PRÓPRIO

Syro Cabral de Oliveira


Em nossa atualidade, os profissionais da ciência médica agem semelhantemente a policiais versus bandidos. Os bandidos saem na vanguarda, inovando a arte da malandragem, ao passo que a polícia se mantém na retaguarda, explicando as ações dos bandidos. Do mesmo modo é a ação de nossos especialistas da medicina. Aparece um novo vírus, causa estrago enorme, os cientistas da saúde descobrem uma vacina depois de todos os acontecimentos. Vem uma nova onda de vírus, aquela vacina se encontra em estado de démodé. Isso faz-nos lembrar também o comportamento dos profetas da economia, isto é, os economistasi. Fazem mil previsões das tendências do mercado financeiro e acertam duas ou três e ainda depois dizem: “Prevemos isso há três meses”, mas esquecem de mencionar que acertaram duas ou três em mil previsões.

Por que isso se dá? Porque esses especialistas querem aprisionar os conhecimentos, agir a partir de rigorosos métodos de investigação, em torno da natureza humana, e acabam produzindo sob pressão do rigor da necessidade, ao passo que, no caso dos bandidos, tudo se dá ao acaso e idem para os vírus. Se esses agentes da ciência médica voltassem suas pesquisas para encontrar um método que procurasse dar conta do que ocorre na atualidade dos eventos, que implicam doenças nos seres humanos, possivelmente, resolveriam os problemas, em torno das novas doenças, com maior rapidez. Mas isso se torna difícil, pois implica uma nova postura, um novo olhar, através de ângulos diferentes, diante da realidade do universo em questão. Mas, infelizmente, fechados em seus métodos de previsões certas, tornam-se absolutamente vesgos, porque se habituaram a ver o seu universo através de uma lente pigmentada, em vez de procurarem uma lente incolor. Ora, os nossos olhos conseguem ver todas as cores, porque, justamente, o nosso nervo óptico é incolor. Como as ciências não querem questionar os seus próprios métodos, passam a se comportar como os cachorros que, na tentativa de pegar o seu próprio rabo, ficam correndo em círculo.

A Ciência, tal como se coloca hoje em dia, cheia de pretensões, não permite um modo de pensar mais amplo. Não precisa buscar nada, pois ela é a autoridade máxima, um verdadeiro dogmatismo deliberado. Qualquer absurdo que se diga em nome dela não se pode questionar ou tentar contestar. Diante de uma tentativa de contestação, ouve-se imediatamente: “Mas isso tem fundamentação científica”. Não se percebeu ainda que as verdades científicas são provisórias. São verdades até quando não se prove o contrário.

No início, quando se descobriu o antibiótico – a penicilina – pensou-se que tinha descoberto o remédio para todos os males, ou seja, a verdadeira panaceia. Quando falhou em alguns pacientes, afirmaram que as bactérias tinham ganhado resistência. Aumentaram a dose e mataram o paciente também.

Tudo mudou com a teoria dos mutantes. Essa teoria permitiu-lhes um olhar mais amplo acerca dos problemas relacionados à saúde. A partir daí, procuraram descobrir outros antibióticos. E assim as coisas vão avançando. O que permite o avanço no campo dos conhecimentos é justamente o debate e os questionamentos.

A arrogância se tornou uma prática a tudo que está ligado à Ciência. A Academia possui toda a virtude da arrogância. Ela é o verdadeiro leito de procusto. E o pior de tudo é que a Imprensa e a Academia, instituições que têm por pretensão modelar as opiniões, ironicamente, não falam por conta própria. A Imprensa diz sempre segundo fulano, beltrano etc. A Academia, por seu turno, usa citações. Ambas não falam por conta própria, porque querem fugir, a todo custo, da responsabilidade. Nem uma nem outra quer responder pelos seus próprios atos.

Nenhum cientista pode se arriscar a falar por conta própria. Qualquer uma de suas publicações tem que ter o aval da chamada comunidade científica. Assim, o cientista pode dizer qualquer besteira, mas se foi publicada em uma revista científica, ninguém pode contestar.

Resolver o problema da pandemia do coronavírus através de isolamento total das pessoas, ao que nos parece, é reconhecer totalmente a incapacidade de se lidar com tal problema. Não deixa de ser uma demonstração da carência de conhecimentos científicos. Pois, uma proposta de solução dessa natureza não depende necessariamente de nenhum conhecimento científico.

Uma atitude dessa natureza faz-nos lembrar da ação do presidente da Petrobras, no governo Temer, para resolver a crise financeira pela qual a referida empresa estava mergulhada. Simplesmente, o nosso brilhante presidente associou o reajuste do petróleo e seus derivados, tais como os combustíveis, à variação do dólar, como se tivesse feito uma grande descoberta e uma excelente administração. Ora, olhar para dentro de si mesmo e somente ao seu redor, sem antevê as consequências de suas ações é revelar a maior de todas as ignorâncias. É como um físico que projeta uma bomba de alto poder de destruição, abrangendo um raio de dezenas de quilômetros de distância, sem levar em consideração que há milhares de seres humanos naquela área.

Obviamente, que não é o papel do cientista prevê as consequências danosas do seu feito, ou melhor, da sua obra-prima, pois trata-se de uma espécie de técnico e como tal, sua obrigação é unicamente de fazer seu artefato funcionar cem por cento. A decisão de prevê as consequências da ação do artefato desenvolvido pelo nosso majestoso cientista cabe ao governante, figura que deveria visar o bem comum.

Implorar pelo isolamento social é o mesmo que abrir mão simplesmente de sua prerrogativa ou competência essencial, que é a de avançar o máximo possível e incessantemente em direção da descoberta do que é próprio para a cura do doente, visto que a Medicina, como arte, não tem por objetivo propriamente curar o paciente, mas tão-somente procurar discernir os meios próprios para sua cura. Além disso, pensamos também que não é próprio da Medicina aconselhar o paciente a fugir da doença. Este último papel deveria ser reservado a uma outra arte. É como que um pseudo-mestre de artes marciais, em sua total incompetência, tentasse ensinar frequentemente aos seus alunos a maneira de como fugirem do adversário, quando se encontram na iminência de uma fragorosa derrota, em vez de prepará-los para desferirem golpes inusitados diante de um adversário terrível. A menos que o isolamento social proposto seja uma estratégia das economias desenvolvidas, para arruinar ainda mais as economias dos países em desenvolvimento, deixando claro que a Ciência, que deveria caminhar em direção da descoberta dos meios possíveis de curar o doente, tornou-se submissa a interesses escusos.

Quando as áreas específicas saem de seu domínio próprio e sugerem medidas, que são inerentes a outro âmbito do conhecimento para solucionar um problema, torna-se evidente o reconhecimento do seu próprio fracasso e assim assinando a sua incompetência no seu campo de investigação.

Se fôssemos verdadeiros mestres das artes marciais, jamais deveríamos treinar os nossos alunos a debandarem-se diante de uma derrota iminente, mas sempre deveríamos prepará-los para saídas inesperadas, que surpreendam o nosso adversário. Tentarmos descobrir meios de vencer o adversário depois da derrota é  o mesmo que querermos lutar por um consolo e satisfazermos o nosso próprio ego. Ora, isso não é, em hipótese alguma, um princípio de grandeza.

Quando uma Ciência se mostra totalmente incompetente em seu próprio domínio, coisa que Aristóteles, o pai das ciências, certamente não queria, não deixa de nos preocupar muito, pois, evidencia a autoridade da Academia, ou melhor, pseudoautoridade, na medida em que esta mesma Academia arroga para si mesma uma autoridade desassociada da realidade.

É preciso, no entanto, que as pessoas abandonem o hábito de ler apenas aquilo que os doutores escrevem ou indicam. Devemos nos tornar autônomos, sujeitos autoafirmativos e procurarmos trilhar os nossos próprios caminhos.

Há pessoas que confundem avanço da Medicina com o auxílio da tecnologia. Pensam elas que uma cirurgia realizada por meio de videolaparoscopia seria um avanço da ciência médica. É um ledo engano. O médico que domina esta técnica, com orgulho, não deixa de ser um serviçal da tecnologia. Um serviçal da indústria produtora desses aparelhos.

Essa turma que escolhe o curso de medicina, ultimamente, em sua maioria, parece-nos, que vai em busca apenas de um cheque em branco, ou seja, em busca de riqueza, porque bem sabe ela que a doença é uma constância no ser humano, sobretudo, em sociedades de alto nível de ignorância. A saúde está diretamente relacionada aos bons hábitos de vida e, evidentemente, a uma boa alimentação. Como as indústrias, ligadas ao ramo da alimentação, estão ávidas por lucros incomensuráveis, procuram, através de pesquisas, meios para aguçar o prazer de comer, principalmente, alimentos que pouco ou nada contribuem para uma vida saudável. Nessa esteira, vêm junto os pesquisadores de alimentos que causam determinadas doenças, com a finalidade de estimular seu consumo, visando altos lucros, por meio de comissões, através da venda de remédios. Criam-se as doenças e simultaneamente o remédio.

É possível que algumas pessoas vão compreender isso, que estamos colocando aqui, somente quando tiverem algum de seus membros da família sendo vítima de uma medicina claudicante, uma medicina que não se envergonha de defender os interesses de grandes grupos financeiros e donos de laboratórios.

iTrata-se de áreas do conhecimento relacionadas ao ser humano; logo, é impossível fazer previsão com rigor matemático.