terça-feira, 31 de março de 2020

PLURALIDADE DE DISCURSOS E SEUS MATIZES



Syro Cabral de Oliveira


O Brasil está, infelizmente, passando por uma histeria sem precedentes nesses últimos dias. Isto porque o presidente da República está tomando decisões que contrariam os interesses internacionais, ou melhor, interesses do grande capital internacional. Nesse sentido, presenciamos uma fonte de discurso originária e de cunho absolutamente retórico, que tem por objetivo único de influenciar uma pluralidade de outros discursos, com as suas várias facetas e matizes, que se assemelha a uma grande circunferência, cujos raios apontam todos para o seu ponto central. Ou seja, tudo emana do centro e simultaneamente a ele retorna. Quer dizer: é o discurso dominante. O discurso que versa sobre a linguagem e os interesses do capital internacional dominante. 

Os veículos de comunicação, tais como rádios, televisões, mídias eletrônicas, jornais e revistas impressos etc., com seus respectivos profissionais propagadores de suas mensagens, atuam, nesse meio, como porta-vozes dessa fonte original, proliferam e disseminam essas ideias, com todo fôlego possível, conscientemente ou não, como se as mesmas fossem absolutamente verdadeiras e inquestionáveis. Esses profissionais se apresentam cheios de si, de razão incontestável e de conhecimento de causa, a serviço de interesses globais dominantes, sem que hesitem um segundo sequer de que fazem parte de um grande grupo de marionetes ou bonecos de fantoche.

Essa rede de discursos ou pluralidade de discursos tem um só objetivo: o de confundir a opinião pública. E isso se evidencia claramente no momento em que cada jornalista se apresenta como um verdadeiro expert em determinados assuntos ou em aconselhamento de como as pessoas devem se comportar face ao grande inimigo que ameaça uma população inteira no momento atual, ou seja, o temeroso e assustador corona vírus.

Mesmo diante de um todo ou de uma totalidade, cada profissional dos meios de comunicação tem um papel específico ou uma atribuição própria. Cada um deles deve tecer o seu discurso em si mesmo, como se não fosse parte de um todo, mas de modo que se apresente ao público como um todo. Para isso, seu discurso deve se apresentar cheio de coerência, de clareza lógica e consistência. Cada um desses profissionais é um especialista de plantão, que fala com desenvoltura e convicção, pelo menos aparentemente. No Jornal Nacional (TV Globo), o âncora William Bonner, por exemplo, fala com tanta ênfase e convicção de que está ao lado de toda a certeza e toda a verdade, que chega até engrossar as veias do pescoço.

Esses discursos devem de fato ser apresentados com todo vigor possível, pois trata-se de um momento crucial: tudo ou nada, ou seja, trata-se de um momento de vida ou de morte do grande capital global. Isto por que, em um mundo, cuja essência última é o capital, o importante é que sobreviva toda espécie de ser humano – sejam eles seres doentios, estropiados, desvairados, dementes, debiloides etc., isso pouco ou nada importa –, pois, independente do estado de saúde, de comportamento, caráter, etc., das pessoas, todas, enfim, são também consumidores. Portanto, é de suma necessidade que todas essas pessoas sejam salvas a qualquer custo, mesmo que haja um grande prejuízo financeiro momentaneamente, porque este capital financeiro será recuperado rapidamente logo após a cessação da crise viral. Perder 9 trilhões de dólares ou mais neste momento é algo insignificante perante uma grande redução de consumidores, que mantêm esta gigantesca estrutura já construída e direcionada pelo grande capital internacional.

O isolamento social total da população, proposto atualmente pela OMS, de um lado, aparentemente, gera um custo elevado, mas de um outro lado, é um ganho enorme para os países de economias fortes e estabilizadas, tais como os Estados Unidos da América do Norte, China e alguns países da Europa. Pois, tal isolamento fragilizará – com falência das empresas, desemprego em massa e desespero da sociedade como um todo, acarretando uma onda de suicídios desenfreada –, totalmente as economias dos países subdesenvolvidos, deixando-os inteiramente à mercê dessas economias desenvolvidas, logo após o término da crise viral. Portanto, a perda, que esses gigantes do mundo econômico terão agora, será infinitas vezes menor em relação aos ganhos certos e duradouros que terão no amanhã próximo.

É bem possível que esse emaranhado de discursos não tenha outro objetivo senão o de sufocar, em absoluto, todas as economias emergentes para que, no fim de tudo, os gigantes econômicos deem as ordens mundiais e reinem sozinhos acerca do globo terrestre.

Nesse momento em que esses gigantes do mundo econômico não se encontram sobre ameaças, pois possuem uma economia forte e totalmente estabilizada, podendo perder, momentaneamente, milhões ou trilhões de dólares, falam, hipocritamente, em humanidade, mas quando se sentem ameaçados, não medem esforços para lançar uma bomba atômica e destruir comunidades inteiras de uma só e única vez. Essa é a verdadeira arte de fazer com que o feio pareça belo diante de nossos olhos.
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Talvez, aos olhos de muitos, uma comunidade inteira sendo consumida por chamas não desperta o sentimento de humanidade.

É como dissessem para eles próprios: façamos nossos próprios sacrifícios, demos um pouco do nosso próprio sangue hoje, para que o recebamos amanhã em dobro e com total segurança. Nesse cenário, alguns economistas famosos falam em sobretaxar a grande fortuna, tal como diz Luigi Zingales, professor da Escola de Chicago, formadora de capitalistas liberais, em entrevista à BBC News Brasil por telefone: “Vejo uma provável necessidade de criar impostos sobre grandes fortunas, porque, durante guerras, seus meios de financiar um país são basicamente imprimindo dinheiro ou criando alguma maneira de taxar riquezas. Sou sempre contrário a esse tipo de solução em tempos comuns, mas, em situações extremas, essa pode ser a forma para resolver.”

Diante dessa postura do economista liberal, alguns defensores, ingênuos e fanáticos, do sistema socialista esfregam uma mão na outra e dizem, inteiramente contentes, “que os capitalistas estão se rendendo ao modelo socialista”. Não percebem sequer que, na realidade, o grande capital soube e sempre saberá se proteger diante de qualquer ameaça. Todo sacrifício hoje é muito válido, pois parte dos consumidores não pode sucumbir de um dia para o outro. É uma guerra que está sendo travada entre os poderosos em defesa de seus interesses comuns. A luta tem que ser gigantesca, pois não se pode deixar que a base da pirâmide se destrua. Nesse sentido, o próprio Luigi Zingales continua com a sua sagaz teoria: “Isso traria o benefício de salvar o país do desespero, um bem público geral. Mas quem ganha mais com isso são os ricos, porque não só salvam suas vidas como também preservam muito do valor de sua riqueza. Parece contraditório, mas é simples: imagine um país que perdeu um percentual grande de sua população, um monte de coisas simplesmente perdem o valor ali já que a demanda cai drasticamente. Então, em uma situação como essa, é preciso ao menos criar esse imposto sobre fortunas para poder ser mais agressivo em custear uma redistribuição de renda que permita o confinamento da população.”

Nesses momentos de crise, a hora é de união e muita união mesmo entre capitalistas e socialistas/comunistas para salvar vidas, porque o poderio de ambos se encontra sob ameaça. Diante de um perigo comum, as diferenças desaparecem. A luta, portanto, é o isolamento total da polução. A morte de milhares ou milhões de pessoas, nesse momento, representa uma ameaça assustadora ao mercado consumidor. Só em se imaginar que milhares ou milhões de frascos de remédios deixarão de ser vendidos (pois os que morrem são o que mais consumem remédios), smartphone, aparelho de tv, notebook etc., torna-se algo inconcebível. Por isso que circulam, nas redes sociais, mensagens desse tipo: “O mundo inteiro está chocado com o que Bolsonaro está fazendo. Vamos levar ele a responder pelo que está fazendo no Tribunal de Haia (Tribunal Internacional de Justiça) como genocida, por crime contra a humanidade!”.

O desespero dessas pessoas, que sonham em perpetuar no poder – seja poder político ou econômico –, chega aos extremos, a ponto de não mais medirem as consequências de suas próprias palavras. É o vale tudo. Pensam, nesses momentos cruciais, em jogar todos os seus únicos trunfos que lhes restam, pois, no caso de atingir, em cheio, o alvo pretendido, vão se sentir como se estivessem alcançados o verdadeiro nirvana.

Nesse sentido, podemos observar a agitação dos veículos de comunicação, governadores, prefeitos e outros que, visivelmente, pretendem a alcançar o poder, dedicando o seu tempo todo, praticamente vinte quatro horas por dia, para convencer à população da importância do isolamento social e do confinamento em suas casas.

Esta é a mensagem. Siga-a quem se diz ter juízo!!