quarta-feira, 21 de outubro de 2009

PSEUDO-REVOLUCIONÁRIO

Syro Cabral de Oliveira

O pseudo-revolucionário pode incorrer em dois erros triviais. O primeiro é em virtude de ele se encontrar dentro do sistema que tem por objeto a pretensão de combatê-lo; o segundo é em virtude de querer combater um sistema que nunca o vivenciou, pois sempre se manteve fora do mesmo. No primeiro caso o pseudo-revolucionário está envolvido no próprio sistema e conseqüentemente não o conhece bem, devido não ter tido a distância necessária para ver seus vícios; e no segundo caso, o pseudo-revolucionário cai em situação semelhante a do primeiro, só que com uma pequena diferença. Se no primeiro caso, o pseudo-revolucionário é um verdadeiro alienado e, portanto o seu discurso é impregnado de vícios, no segundo caso, ele é ignorante no que tange à verdadeira natureza do sistema. Impõe, nesse sentido, um discurso estranho à realidade das coisas.

E é isso mesmo que ocorre com os pretensos ideólogos e descontentes de gabinetes, os quais, lá de suas torres de marfim, querem elaborar sistemas que, às suas vistas, são uma obra de uma colossal perfeição e, portanto atendem aos anseios das massas populares. Só que quando descem de seus pedestais sofrem verdadeira desilusão e logo percebem que não conseguem angariar a simpatia daquelas massas populares e passam a promover mudanças nas suas obras-primas, de modo que, acabam se conscientizando de que estas são inaplicáveis.

Já aquele que sai do seio das massas populares, por razão obvia, não consegue ver com clareza e perceber também os verdadeiros anseios dessas massas populares. Isto por que ele permaneceu o tempo todo entre estas massas e nunca pode afastar para ver e analisar a verdadeira natureza do problema que as aflige. Tanto no primeiro modo como no segundo, o pseudo-revolucionário transita nos extremos. Portanto, é preciso que haja um ponto intermediário. Este ponto deve ser exercido por aquele homem que, por sua natureza e uma iluminação inexplicável, consiga unir o aspecto idealista e político na mesma pessoa e penetrar num e noutro extremos, captar a verdadeira natureza e os anseios dessas massas populares e armar sistemas tão claros como os cristais, como fossem produtos de obras divinas, e, ao mesmo tempo, arrastá-las rumo aos seus ideais.