quarta-feira, 3 de junho de 2020

TRANSVALORAÇÃO DA VISÃO DO ATUAL CONCEITO DE NATUREZA

Syro Cabral de Oliveira


A Natureza, através de sua própria essência, entra em conflagração e se refaz de tempo em tempo. É o verdadeiro devir cíclico. Assim, as grandes pandemias, ao que nos parece, não deixam de ser um processo natural, que se manifesta periodicamente, onde ocorrem grandes concentrações ou aglomerações humanas, sem, no entanto, esquecermos que as próprias ações dos bandidos, muitas vezes, exercem também esse papeli, sobretudo quando se digladiam entre si, pois, somos parte do Cosmos e consequentemente agimos consoante as suas ações. Nesse sentido, é muito natural que, no campo das ações da natureza, se procurem encontrar deliberadamente responsáveis para os desastres que atingem os seres humanos, mesmo se sabendo que a própria natureza se encarrega espontaneamente de eliminar todos os excessos que ocorrem no seu interior. Isto porque somos produtos de uma cultura que nos incutiu hábitos de procurarmos encontrar, a qualquer custo, um culpado para todos os eventos que se manifestem no globo terrestreii, sejam eles naturais ou não, sem atentarmos sequer que somos uma fonte de pensamentos pessimistas. A razão disso se deve justamente ao fato de que fomos educados, ou melhor, modelados, há milhares de anos, dentro de um determinado paradigma que nos leva a vermos o mundo a partir de um único e mesmo ponto de vista e, que, mesmo assim, este nos parece absolutamente natural.

Nas áreas de grandes concentrações humanas, aliada a um consumo desenfreado, em que se estimula o homem a viajar para lugares distantes do globo terrestre, levando consigo dinheiro para gastar em ambiente de grandes aglomerações humanas, acaba também por espalhar doenças, que surgem a partir de hábitos de comportamento específicos de determinados povos. Fato esse que ocorre à semelhança dos pássaros e outros animais – claro, em uma escala menor –, que levam sementes diversas, inclusive as de ervas daninhas, através de suas fezes, espalhando-as a regiões longínquas. É, de um certo modo, a natureza agindo sorrateiramente.

Essa Ciência, tão idolatrada por um grande número de pessoas, que descobre e fomenta os meios que aumentam o bem-estar do homem, é a mesma Ciência, aliada à tecnologia, que, ironicamente, descobre meios que levam o homem a se deslocar, rapidamente, de uma extremidade a outra do globo terrestre, fazendo com que as doenças se igualem entre todos os homens.

É óbvio que isso se dá porque, justamente, os cientistas não procuram conhecer as consequências de suas descobertas, mas tão-somente se elas atingem cem por cento seus desígnios. O que importa, no âmbito da ciência médica, por exemplo, é que o antibiótico mate as bactérias, independentemente que mate também o paciente. É claro que se pensa, nesse caso específico, em termos numéricos. Se entre cem doentes, 60 ou 80% são salvos, não se leva em consideração os que morrem, infelizmente.

Depois da explosão de uma pandemia, só se mencionam as consequências e procuram encontrar somente os erros nos esforços de seu combate e seus respectivos responsáveis, sem jamais, no entanto, falar das causas do espalhamento do vírus e seus verdadeiros responsáveis.

Ao não se reconhecerem as ações espontâneas da natureza e procurarem sempre um responsável para as suas manifestações, não deixa de ser uma maneira equivocada de se verem as coisas em todo seu conjunto. Se subirmos ao cume das montanhas e olharmos para baixo, vamos perceber que as cidades são um grão de areia diante da vastidão das áreas verdes e das despovoadas. Portanto, os males que as pessoas podem causar ao meio ambiente são muito diminutos em relação à vastidão do universo terrestre intacto. Daí, podemos concluir, claramente, que o discurso que objetiva encontrar responsáveis para os danos ocorridos no meio ambiente, não deixa de ser uma tentativa de desviar os olhares das pessoas do verdadeiro projeto previamente definido, cujo escopo poucas são as pessoas que conseguem alcançá-lo ou vislumbrá-lo.

Sabemos que a maioria esmagadora das pessoas, independentemente do seu grau de instrução, é vítima da manipulação de discursos muito bem elaborados e arquitetados nos bastidores dos interesses ideológicos. Infelizmente ou felizmente, algumas pessoas, através de uma ordem espiritual, conseguem governar o mundo, por meio de ações de uma mão invisível, e conduzir o rebanho humano, mudando sua opinião frequentemente, para lá e para cá, à semelhança de um pêndulo de relógio que, ora está para um lado, ora está para um outro.

A maioria da população mundial é vista como um bando de pessoas que vive em um constante estado letárgico diante de uma minoria, muito lúcida, que conduz o grande rebanho. O próprio presidente da Rússia, Vladimir Putin, já fez menção a essa capacidade oratória de conduzir e modelar a opinião das pessoas.

No meio do cenário das representações da esfera de poder – quer seja no âmbito dos interesses políticos, quer no dos econômicos –, é certo que existe um embate, um jogo de forças que objetive acirrar os ânimos, ou melhor, estimular as emoções, numa palavra, as paixões humanas, segundo um plano preestabelecido de antemão. Nesse tabuleiro, as forças opostas digladiam-se constantemente para ocupar e controlar o espaço hegemônico do mando. Colocam-se em prática seus projetos de caráter persuasivo e logo em seguida querem ter conhecimento do resultado de suas ações, que se desenvolvem, às vezes, em um período de uma semana ou um pouco mais. Os Institutos de Pesquisas de Opinião Pública, que funcionam como uma espécie de termômetro, lançam sondagem de opinião para verificar os efeitos causados na sociedade advindos dessas ações. De acordo com o resultado, intensificam-se tais ações ou as modificam, com o objetivo de atingir seus fins almejados.

Seja lá como for, convocamos os nossos pares para uma grande reflexão em torno da realidade que nos cerca e, ao mesmo tempo, para o cultivo de uma vida isenta de perturbações, cheia de sentido e amor-próprio, para ser premiada de uma longevidade próspera e repleta de encantos.

É hora de repensarmos as nossas próprias ações e também as nossas passividades diante dos acontecimentos que nos afligem e, evidentemente, mudarmos os nossos comportamentos e paradigmas perante a realidade cruel, que nós mesmos a construímos, inconscientemente, e deixarmos a natureza agir em toda sua plenitude, tanto fora de nós como em nós mesmos, e sermos os nossos próprios terapeutas. Devemos abandonar toda espécie de artificialismo, que tem por objetivo último de eclipsar-nos em relação à atuação da natureza por si mesma, pois é certo que o homem não muda e tampouco controla as ações naturais, mas pode conhecê-las para conviver harmonicamente e sem temor com elas.

Deveríamos, desde muito cedo, procurar conhecer a nossa verdadeira constituição corporal e toda a nossa verdadeira natureza – visto que somos um microcosmo –, para que, desse modo, pudéssemos proceder os cuidados necessários de nós mesmos. Com efeito, afastamo-nos tanto de nossa própria natureza que chegamos até mesmo desprezar inteiramente o nosso próprio corpo, deixando-o, na maioria das vezes, em segundo plano e ao seu bel-prazer. Ingerimos líquidos e comemos alimentos que, muitas vezes, são totalmente prejudiciais ao nosso corpo, sem, no entanto, atentarmos para tais malefícios. Infelizmente, não nos conscientizamos suficientemente ainda de que o mal é o que entra pela boca e não o que sai, como muitos soem pensar. Nesse sentido, deveríamos a aprender a nos observar e, além disso, a selecionar tudo aquilo que terá, supostamente, uma potência de desencadear uma ação nociva em nós. Assim, com esse autoconhecimento, tornar-nos-íamos aptos a desenvolver uma técnica terapêutica que teria por objetivo a auxiliar-nos nos cuidados de nós mesmos.

Um processo de conscientização de que a mente é própria para governar, ao passo que o papel do corpo é o de obedecer, levar-nos-íamos, certamente, a uma superioridade em relação a povos que não procuram desenvolver esse aprendizado promissor, pois, não há corpos belos sem que haja de antemão mentes belas. Assim, deveríamos deixar de lutar incessantemente por uma beleza efêmera, constituída através de pinturas e adornos, mas liberarmos todas as nossas energias em prol de uma beleza duradoura e realmente contemplativa.

Uma boa educação nos levaria a conscientizarmos de que, muitas vezes, um médico, ao prescrever-nos uma droga, cujo efeito se manifesta exatamente ao contrário do que esperávamos, nem sempre isso ocorre em função de um erro do médico ou em virtude de sua ignorância acerca de seu campo de ação, mas porque, na maioria das vezes, desconhecemos a verdadeira natureza de nosso próprio corpo e, consequentemente, não sabemos fazer-lhe uma descrição precisa das manifestações sintomáticas apresentadas nele.

Assim, poderíamos concluir cabalmente que a grandeza do homem não está ligada, em hipótese alguma, às coisas advindas do seu exterior, mas, pelo contrário, está intimamente relacionada a uma mente sã e totalmente desapegada de um mundo material e escravizador da natureza humana. Uma medicina que busque meios para curar um doente de um mal qualquer, localizado em uma das partes do seu corpo, desassociando-o do todo, é uma medicina que quer apenas investigar os efeitos e não propriamente as causas. E, por conta disso, já dizia Platão, século V a.C., através de Sócrates: “Zalmoxis, rei da Trácia, atesta, na qualidade de Deus, que, assim como não se deve empreender curar os olhos sem haver curado a cabeça, não se deve igualmente fazê-lo para a cabeça sem se ocupar do corpo, de igual modo não se deve mais esforçar-se por curar o corpo sem se esforçar por curar a alma; mas que, se a maior parte das doenças escapam à arte dos médicos da Grécia, a causa disso é que eles desconhecem o todo de que é preciso cuidar, este todo sem o bom comportamento do qual é impossível que se comporte bem a parte. É na alma, com efeito, dizia meu Trácio, que para o corpo e para todo o homem, os males e os bens têm seu ponto de partida; é daí que eles emanam, como emanam da cabeça os que se relacionam à vista; é por conseguinte a esses males e a esses bens da alma que devem se dirigir nossos primeiros cuidados e nossos cuidados principais, se queremos que se comportem como é preciso as funções da cabeça e as do resto do corpo. Ora, dizia ele, é pelas encantações, bem-aventurado amigo, que se cuide a alma; essas encantações são os discursos que contêm belos pensamentos; ora, os discursos que são de tal sorte fazem nascer na alma sabedoria moral, cuja aparição e a presença permitem doravante causar facilmente a boa saúde na cabeça como no resto do corpo. Ora, ensinando-me tudo, com o remédio, as encantações, ele me dizia para não me deixar persuadir por ninguém de lhe cuidar a cabeça, sem que me tivesse entregue antes sua alma para ser cuidada por mim por meio da encantação! Acrescentava ele que era, relativamente às pessoas, o erro hoje de alguns médicos pretenderem ser médicos de uma das duas à parte da outra, e me recomendava com uma extrema insistência de não me deixar por ninguém, tão rico, tão nobre, ou tão belo fosse, persuadir de agir de uma outra maneira.”, Cármides,157 a-b.

Que lutemos, portanto, não somente em direção da construção de um sujeito autoafirmativo e imbuído de autoconhecimento, mas também em direção de um crescimento que parta do interior para o exterior….

iHá de se observar, por exemplo, a influência das fases da Lua sobre o ser humano.

iiA força da doutrinação religiosa sobrepuja, muitas vezes, as ações espontâneas do homem.


7 comentários:

  1. Um texto muito sábio e realista. Concordo com você, caro amigo Syro Cabral. Adoecer faz parte da trajetória humana na Terra e certas doenças são "cíclicas",por descaminhos escolhidos pela própria humanidade, mas assim como o corpo, a alma precisa de cuidados e às vezes ultrapassam ao plano físico e entra no plano subjetivo. O seu emocional e espiritual podem estar comprometidos, criando doenças da alma que simpatizam ao corpo, não é? Talvez a alma precise de "remédio ". Talvez a alma se canse de pedir ajuda e passe para o corpo e é nesse comportamento que pode ser natural mesmo que um pouco impróprio e muitas vezes doente, que se estabelece ao sermos permissivos. Sabemos que o próprio ser humano é o responsável pela grande parte dos desastres humanos( tirando o vulcanismo e o tectonismo). Na Índia e na China com diversas feiras de animais contaminados, no Brasil com a devastação de florestas e os nossos mananciais, afetando nossa água e nosso clima...Invadindo e contaminando nossos recursos naturais,ocupando nossas reservas indígenas e contaminando-os com doenças. Boa noite amigo. Abraços e parabéns por seu texto. Jane

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    1. Meus agradecimentos pelo seu comentário. É muito importante que as pessoas externem suas opiniões, pois, assim há espaço para o largamento de nossas visões de mundo.

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  2. Impossível prá mim não acreditar que exista uma inteligência superior a nossa humanos,essa inteligência é criadora e responsável pelo universo , nós que fazemos parte deste exemplo vejamos como prova o movimento cincronisado em seus movimentos o cuidado em nós da condições de vida evolutiva obedecendo rígidas leis obedecendo até um certo ponto nosso livre arbítrio,leis que e diferente muito diferente da nossa está e imutável superior a nossa perfeita em moralidade e intelectualidade,o fenômenos provocados vindo desta e que aconteceu e acontece comprovam a superioridade desta em relação a nossa o equivocadamente o que digo poucos conhecem mas os que conhecem não são privilegiados estudam se interessam este também e um fenômeno pela transcendência adquirem percepções,em seu texto aconteceram algumas,ao desrespeitamos as leis dessa inteligência está nos educa,e não pensemos que é punição se não vejamos a pandemia atual,conforme vc relata poluímos,mentimos em todos os sentidos,matamos,roubamos enganamos,precisamos mudar evoluir para atingirmos a perfeição que não e deste mundo de provas e expiações.r

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  3. Corrigindo:a palavra equivocado foi colocada equivocadamente entendeu o trocadilho.

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  4. Corrigindo:A palavra equivocadamente não deveria ser colocada.

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  5. Minha visão em relação ao texto é inteiramente espiritual por entender que sou um espírito no corpo físico,tendo certeza que a inteligência e atributo da alma ou espírito por isto a preocupação mas direta é com a moralidade em meus atos sem deixar de cuidar do corpo físico,e onde vivo planeta Terra aí sabes o que fazer para protegê-lo,mencionaste no texto.

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  6. É muito complexo, vc aborda muitos temas. Achei interessantíssimo.Não vou opinar. É muito cedo. Um texto q aborda vários temas. Para não ma calar voy falar apenas um pensamento: Deixe nossa mente divagar, viajar, a velocidade dos pensamentos é enorme, precisa de muito treinamento para podermos esvaziar a mente, é a chamada meditação. Mas deixemos a mente voar, e o importante é mantermos os pés fixos. Parabéns.

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