domingo, 10 de agosto de 2014

PARA REFLETIR

  Syro Cabral de Oliveira

Quantificar uma aula é realmente uma situação muito difícil. Se imaginarmos que podemos pensar o tempo de duas maneiras: um tempo quantitativo e um outro qualitativo (cronos e kairós), vamos chegar à clara conclusão de que quantificar uma aula é uma tarefa totalmente estranha a uma proposta de um processo educativo sério; a menos que não se diferencie educação de um processo de produção econômica. No âmbito do processo educativo, o tempo considerado é o kairós, isto é, o chamado tempo oportuno, o momento certo. Embora poder-se-ia pensar no cronos, um tempo quantitativo, mas apenas para não ultrapassar um determinado espaço de tempo que deve ser administrado entre um horário e outro.

E, se de um lado – no que se refere ao esforço de levar o aluno a modificar o seu modo de pensar e abrir a sua mente para novos horizontes –, não podemos pensar em tempo apenas quantitativo, porque, nem sempre o tempo previsto para uma aula corresponde de fato à experiência de sala de aula; e, de um outro lado, um determinado conteúdo programático pode ser transmitido por um professor a uma turma e entendido por todos alunos em um tempo quantitativo muito menor em relação a um outro professor que sequer não consegue fazer um único aluno entendê-lo.

Parece-nos que um bom professor não é aquele que segue um tempo matemático, mas aquele que tira proveito das oportunidades que lhe aparecem nas circunstâncias de suas aulas. Desse modo, todas suas aulas seriam singulares, visto que elas seguiriam as circunstâncias apropriadas oferecidas pelos seus alunos em turmas diferentes.

Além disso, seguir um projeto faz-se necessário, mas com uma certa parcimônia. A obsessão por projeto é um grande risco e pode levar a sérios problemas, sobretudo quando se trata de educação. As economias planificadas , tais como as da antiga Rússia e da velha China – para não falar na remanente Cuba – não passaram de um fiasco e de um grande fracasso, serviram apenas para mostrar que o abuso de projetos é muito danoso. E de quebra, poderíamos também citar toda a América latina, que não se decide claramente a que meio de produção seguir – cujo modelo de educação é muito mais um esquema doutrinador do que de fato educador, a exemplo dos países já mencionados. Quando, na realidade, o verdadeiro papel da escola seria o de fazer com que os seus alunos tornassem indivíduos resolutos, independentes e senhores de si, que pudessem fazer as suas próprias escolhas e não se deixarem levar por propagandas ideológicas.

De tempo em tempo, surgem ideias enquadradoras, que tem por objetivo apenas de modelar docentes, com planos disso e daquilo, sem que resultem em dados realmente convincentes. Há professores que se envaidecem e tentam exibir uma sapiência sem par de todos esses modelos e projetos mirabolantes, mas quando entram em sala de aula são um verdadeiro fracasso. São exatamente como alguns dos nossos teóricos, que falam com desenvoltura acerca das normas morais e coisas do gênero e as ensinam com toda pompa, mas agem, no seu dia a dia, exatamente ao contrário em relação ao que dizem.

É preciso de fato que se invista urgente em um modelo de ensino que não só tenha por finalidade última coadunar um agir efetivo com um pensamento reflexivo e realmente produtivo, do lado dos educadores, mas também de fazer com que os educandos conscientizem-se de seu verdadeiro papel no processo de educação, ou seja, o dos seus deveres e da sua responsabilidade. Só através de uma conscientização mútua é que podemos colher bons frutos. Fora disso, todo esforço será em vão.

Se não seguirmos esse caminho e apenas tentarmos atrair alunos para a escola, sem um critério bem definido, correremos o sério risco de cairmos na situação daquele professor que pôs um grupo de alunos em sala de aula e lhe pediu que observasse durante um tempo estipulado. Transcorrido o tempo, o professor perguntou ao grupo o que havia observado. Alguns alunos deram respostas contraditórias e desconcertantes, outros disseram qualquer coisa para não dizer nada e outros ainda disseram – os mais corajosos – que nada haviam observado, pois não foi dito o que deveria ser observado. O nosso ilustre professor, infelizmente, só não sabia que ele deveria direcionar o grupo para um ponto bem definido, o qual deveria ser observado.

Sem meta, sem ponto a atingir, sem deveres e sem responsabilidade nenhum ser humano, por mais capaz que seja, não alcança nenhum êxito.

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