Syro
Cabral de Oliveira
Quantificar uma aula é realmente uma situação muito difícil. Se imaginarmos que podemos pensar o tempo de duas maneiras: um tempo quantitativo e um outro qualitativo (cronos e kairós), vamos chegar à clara conclusão de que quantificar uma aula é uma tarefa totalmente estranha a uma proposta de um processo educativo sério; a menos que não se diferencie educação de um processo de produção econômica. No âmbito do processo educativo, o tempo considerado é o kairós, isto é, o chamado tempo oportuno, o momento certo. Embora poder-se-ia pensar no cronos, um tempo quantitativo, mas apenas para não ultrapassar um determinado espaço de tempo que deve ser administrado entre um horário e outro.
E, se de um lado – no que se refere ao esforço de levar o aluno
a modificar o seu modo de pensar e abrir a sua mente para novos
horizontes –, não podemos pensar em tempo apenas quantitativo,
porque, nem sempre o tempo previsto para uma aula corresponde de fato
à experiência de sala de aula; e, de um outro lado, um determinado
conteúdo programático pode ser transmitido por um professor a uma
turma e entendido por todos alunos em um tempo quantitativo muito
menor em relação a um outro professor que sequer não consegue
fazer um único aluno entendê-lo.
Parece-nos que um bom professor não é aquele que segue um tempo
matemático, mas aquele que tira proveito das oportunidades que lhe
aparecem nas circunstâncias de suas aulas. Desse modo, todas suas
aulas seriam singulares, visto que elas seguiriam as circunstâncias
apropriadas oferecidas pelos seus alunos em turmas diferentes.
Além disso, seguir um projeto faz-se necessário, mas com uma certa
parcimônia. A obsessão por projeto é um grande risco e pode levar
a sérios problemas, sobretudo quando se trata de educação. As
economias planificadas , tais como as da antiga Rússia e da velha
China – para não falar na remanente Cuba – não passaram de um
fiasco e de um grande fracasso, serviram apenas para mostrar que o
abuso de projetos é muito danoso. E de quebra, poderíamos também
citar toda a América latina, que não se decide claramente a que
meio de produção seguir – cujo modelo de educação é muito mais
um esquema doutrinador do que de fato educador, a exemplo dos países
já mencionados. Quando, na realidade, o verdadeiro papel da escola
seria o de fazer com que os seus alunos tornassem indivíduos
resolutos, independentes e senhores de si, que pudessem fazer as suas
próprias escolhas e não se deixarem levar por propagandas
ideológicas.
De tempo em tempo, surgem ideias enquadradoras, que tem por
objetivo apenas de modelar docentes, com planos disso e daquilo, sem
que resultem em dados realmente convincentes. Há professores que se
envaidecem e tentam exibir uma sapiência sem par de todos esses
modelos e projetos mirabolantes, mas quando entram em sala de aula
são um verdadeiro fracasso. São exatamente como alguns dos nossos
teóricos, que falam com desenvoltura acerca das normas morais e
coisas do gênero e as ensinam com toda pompa, mas agem, no seu dia a
dia, exatamente ao contrário em relação ao que dizem.
É preciso de fato que se invista urgente em um modelo de ensino que
não só tenha por finalidade última coadunar um agir efetivo com um
pensamento reflexivo e realmente produtivo, do lado dos educadores,
mas também de fazer com que os educandos conscientizem-se de seu
verdadeiro papel no processo de educação, ou seja, o dos seus
deveres e da sua responsabilidade. Só através de uma
conscientização mútua é que podemos colher bons frutos. Fora disso,
todo esforço será em vão.
Se não seguirmos esse caminho e apenas tentarmos atrair alunos para
a escola, sem um critério bem definido, correremos o sério risco de
cairmos na situação daquele professor que pôs um grupo de alunos
em sala de aula e lhe pediu que observasse durante um tempo
estipulado. Transcorrido o tempo, o professor perguntou ao grupo o
que havia observado. Alguns alunos deram respostas contraditórias e
desconcertantes, outros disseram qualquer coisa para não dizer nada
e outros ainda disseram – os mais corajosos – que nada haviam
observado, pois não foi dito o que deveria ser observado. O nosso
ilustre professor, infelizmente, só não sabia que ele deveria
direcionar o grupo para um ponto bem definido, o qual deveria ser
observado.
Sem meta, sem ponto a atingir, sem deveres e sem responsabilidade nenhum ser humano, por mais capaz que seja, não alcança nenhum êxito.
Sem meta, sem ponto a atingir, sem deveres e sem responsabilidade nenhum ser humano, por mais capaz que seja, não alcança nenhum êxito.
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